O que é Missão Integral

O QUE É MISSÃO INTEGRAL

            Partindo da realidade que nos apontam os documentos da Igreja, na América Latina tem-se “um catolicismo popular debilitado por insuficiente evangelização” (cf. DP 444.457.461), o que gera, para a Igreja, uma “alta porcentagem de católicos sem a consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com identidade cristã fraca e vulnerável. Isto constitui grande desafio que questiona a fundo a maneira como estamos educando na fé e como estamos alimentando a experiência cristã” (DA 287).

Encontramo-nos, hoje, diante de uma situação religiosa bastante diversificada e mutável: os povos estão em movimento; certas realidades sociais e religiosas, que, tempos atrás, eram claras e definidas, hoje evoluem em situações complexas. Basta pensar em fenômenos como: o urbanismo, … a descristianização de países com antiga tradição cristã…, o pulular de messianismos e de seitas religiosas. É uma alteração tal que se torna difícil aplicar, em concreto, certas distinções e categorias eclesiais a que estávamos habituados” (RM 32).

Em Evangelii Gaudium, o Papa Francisco nos ajuda a refletir, como que buscando soluções às realidades atuais: o todo é mais do que a parte, sendo também mais do que a simples soma delas... A nós cristãos, este princípio fala-nos também da totalidade ou da integralidade do Evangelho que a Igreja nos transmite e nos envia a pregar… O Evangelho possui um critério de totalidade que lhe é intrínseco…” (237).

Sendo assim, é de fundamental importância buscarmos o sentido da integralidade começando pela palavra “EVANGELIZAÇÃO” que, hoje, inclui a totalidade da Missão da Igreja.

O termo “Evangelização” é atualmente muito elástico, equivocado e ambíguo. Todos falam de evangelização, todos dizem estar evangelizando, porém dão muitas definições diferentes dela, ou estão fazendo coisas totalmente distintas a título de Evangelização.

É urgente para a Igreja esclarecer e precisar o que significa Evangelização, para cumprir a integralidade de sua Missão.

No Lineamenta de Evagelii Nuntiandi aparecem os diversos significados da expressão “Evangelização”:

  1. No Novo Testamento, Evangelização é sinônimo de Querigma.
  2. No Concílio, ampliou-se o significado de Evangelização, entendendo-se como todo o Ministério Profético ou da Palavra.
  3. No sínodo de 1974 e logo depois em Evangelii Nuntiandi se afirma: “Hoje entendemos por Evangelização toda a missão da Igreja, pela qual anuncia-se, implanta-se e estende-se o Reino de Deus”.
  4. Transformação Social que coincida com os desígnios de Deus.

Para se cumprir a INTEGRALIDADE da Missão da Igreja, identificada por João Paulo II como “Nova Evangelização”, é necessário compreender e cumprir os quatro significados da palavra Evangelização, porém em ordem, e começando pelo Querigma, já que as três primeiras são includentes e a quarta é uma consequência que se deve buscar e se dará normalmente ao se cumprir a tarefa da Igreja de forma integral.

Para alcançarmos o que se entende por “Nova Evangelização”, o próprio Papa João Paulo II, que criou essa expressão, a explica em Redemptoris Missio 33:

 “As diferenças de atividade, no âmbito da única missão da Igreja, nascem, não de motivações intrínsecas à própria missão, mas de diversas circunstâncias onde ela se exerce. Olhando o mundo de hoje, sob o ponto de vista da evangelização, podemos distinguir três situações distintas:

  1. Missão: antes de mais nada temos aquela à qual se dirige a atividade missionária da Igreja: povos, grupos humanos, contextos socioculturais onde Cristo e o seu Evangelho não são conhecidos e onde faltam comunidades cristãs suficientemente amadurecidas.
  2. Pastoral: onde há comunidades cristãs, com fé e vida fervorosas que dão testemunho do Evangelho de maneira irradiante em seu meio e com sólidas e adequadas estruturas eclesiais.
  3. Nova Evangelização: como situação intermediária nos países de antiga tradição cristã, mas, por vezes, também nas Igrejas mais jovens, onde grupos inteiros de batizados perdem o sentido da fé viva, até o ponto de não se reconhecerem mais membros da Igreja, levando uma existência afastada de Cristo e de seu Evangelho”.

A expressão “Nova Evangelização”, criada por João Paulo II e oficializada por Bento XVI com a criação do “Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização”, propõe o cumprimento integral da Missão da Igreja que não é, simplesmente, a soma das situações anteriores, mas, a descoberta do sentido profundo de cada uma delas como situações distintas, porém, fundamentalmente sucessivas, onde a Igreja precisa cumprir, com todos e com cada um, indistintamente, em primeiro lugar, sua dimensão Missionária, ou seja, levar cada pessoa a começar ou recomeçar a partir de Cristo (cf. DA 12), com a oferta querigmática, como nos ajuda a compreender o Documento de Aparecida:

– “Nossa maior ameaça ‘é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, na qual, aparentemente tudo procede com normalidade, mas na verdade, a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez’. A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que ‘não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com um Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva…. Ele é o Filho de Deus verdadeiro, o único Salvador da humanidade. A importância única e insubstituível de Cristo para nós, para a humanidade, consiste em que Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida. Se não conhecemos a Deus em Cristo e com Cristo, toda a realidade se torna um enigma indecifrável; não há caminho e, não havendo caminho, não há vida nem verdade’. No clima cultural relativista que nos circunda se faz sempre mais importante e urgente enraizar e fazer amadurecer, em todo corpo eclesial, a certeza de que Cristo, o Deus de rosto humano, é nosso verdadeiro e único Salvador (querigma)” (DA 12;22).

Encontramo-nos diante do desafio de revitalizar nosso modo de ser católico e nossas opções pessoais pelo Senhor, para que a fé cristã se enraíze mais profundamente no coração das pessoas e dos povos latino-americanos como acontecimento fundante e encontro vivificante com Cristo” (DA 13).

Cumprida a Missão, tem que haver um seguimento Pastoral com a oferta de todos os seus elementos essenciais, como um processo natural para a continuidade da vida cristã, porque nos dirigimos, em primeiro lugar, a católicos já batizados. Isso não é classificação conceitual, mas realidade viva e latente no cumprimento concreto da Missão da Igreja.

A Missão da Igreja deve ser completa, onde tudo esteja presente, porque “a Igreja está a serviço de todos os seres humanos, filhos e filhas de Deus” (DA 32), porque “desejamos que a alegria que recebemos no encontro com Jesus Cristo, a quem reconhecemos como Filho de Deus encarnado e Redentor, chegue a todos os homens e mulheres feridos pelas adversidades; desejamos que a alegria da Boa Nova do Reino de Deus, de Jesus Cristo vencedor do pecado e da morte, chegue a todos quantos jazem à beira do caminho, pedindo esmola e compaixão (cf. Lc 10,29-37;18,25-43)” (DA 29). Daí a importância de revermos essa integralidade sob diversos aspectos, para compreendermos que “o todo é mais do que a parte” (EG 237) e que a integralidade vem antes das prioridades. O que, então, significa cumprir a integralidade da Missão da Igreja com relação aos seus:

Destinatários: significa IR A TODOS.

Todos tem o direito de receber o Evangelho. Os cristãos têm o dever de anunciá-lo, sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria… ” (EG 14).

A Igreja nasce da missão e existe para a missão. Existe para os outros e precisa ir a todos” (DGAE 76).

Muitas vezes, agimos como controladores da graça, e não como facilitadores. A Igreja, porém, não é uma alfândega, mas a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa. Se a Igreja inteira assume esse dinamismo missionário, há de chegar a todos sem exceção” (EG 47-48).

Todos como destinatários e não somente os que estão dentro. Para isso, se faz indispensável, na Missão da Igreja, a Saída Missionária. “Estamos num tempo de urgente saída” (DGAE 31), Igreja em permanente estado de missão que atinge os que estão dentro, mas se preocupa e trabalha para buscar os que estão fora, a começar pelos que ela mesma batizou e hoje se encontram como afastados da fé cristã. Sair significa ir buscar e alcançar as pessoas onde elas estão, onde vivem, onde trabalham. A Igreja ‘em saída’ é uma Igreja com as portas abertas(EG 28).

         “… Hoje todos somos chamados a essa nova ‘saída’ missionária… Todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG 20).

                “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo!… Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças…” “Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar:  ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’(EG 49).

João Paulo II convidou-nos a reconhecer ‘que não se pode perder a tensão para o anúncio’ àqueles que estão longe de Cristo, ‘porque esta é a tarefa primária da Igreja”. A atividade missionária ‘ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja’ e ‘a causa missionária deve ser a primeira de todas as causas’”. “Que sucederia se tomássemos realmente a sério essas palavras? Simplesmente, reconheceríamos que a ação missionária é o paradigma de toda a obra da Igreja(EG 15).

            Espero que todas as comunidades se esforcem por atuar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, que não podem deixar as coisas como estão. Neste momento não nos serve uma simples administração. Constituamo-nos em ‘estado permanente de missão’ em todas as regiões da terra” (EG 25).

Objetivo: chegar AO HOMEM TODO

A Missão da Igreja precisa alcançar a todas as situações do ser humano: indivíduo, família, comunidade, sociedade, estruturas e sistemas sociais. O religioso e o social; o eclesial e o temporal.

            “Toda autêntica missão unifica a preocupação pela dimensão transcendente do ser humano e por todas as suas necessidades concretas, para que todos alcancem a plenitude que Jesus Cristo oferece” (DA 176).

Agentes: ENVOLVER TODOS

A Igreja inteira é missionária e a tarefa de evangelizar é de todo o Povo de Deus. Unidade de missão, diversidade de tarefas e ministérios. Todos apostolicamente ativos e comprometidos. Todos os membros da comunidade paroquial são responsáveis pela evangelização dos homens e mulheres em cada ambiente(DA 171).

O leigo precisa ir sendo formado dentro da amplitude do significado da palavra “Evangelização”, para que com essa visão possa compreender que a missão de evangelizar é de todos os batizados e não de alguns com carismas próprios ou especiais. “Por meio de todas as suas atividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização” (EG 28).

            Urge aos pastores ‘abrir espaços de participação aos leigos e confiar-lhes ministérios e responsabilidades, para que todos na Igreja vivam de maneira responsável seu compromisso cristão’” (DGAE 104a).

Conteúdo: DAR TUDO

É necessário, para o cumprimento integral da Missão da Igreja, oferecer um caminho concreto de vida cristã, com possibilidade para todos na extensão do Reino de Deus.

Dar a integralidade no que diz respeito ao conteúdo, implica oferecer, de forma ordenada, todos os elementos e passos primeiro da Missão e, em seguida, da Pastoral da Igreja, em suas dimensões profética, sacerdotal e régia:

Profética: todo o Ministério da Palavra como processo dinâmico em etapas. As básicas: Querigma, Catequese e Teologia.

Sacerdotal ou de santificação: toda a vida oracional, cultual, litúrgica e sacramental.

Régia: dimensão que tem que subdividir-se e distinguir-se em dois aspectos:

Cristo – Pastor: que congrega o rebanho, constrói a comunhão e edifica a comunidade.

Cristo – Rei: que impulsiona a justiça na caridade: a dimensão social.

O mandato e a tarefa:

CUMPRIR INTEGRALMENTE A MISSÃO E A PASTORAL DA IGREJA, em todas as suas dimensões”, já que “na Sua vinda, [Cristo] trouxe consigo toda a novidade. Com sua novidade, Ele pode sempre renovar a nossa vida e a nossa comunidade [congregação e paróquia], e a proposta cristã, ainda que atravesse períodos obscuros e fraquezas eclesiais, nunca envelhece” Papa Francisco (EG 11).